A Lenda da Mulher de Branco
Há quem considere essa
"versão" de uma aparição de mulher como "Mulher de branco"
com a mesma sereia Alamoa, decantada em prosa e verso no passado. Para uns, a
" Mulher de Branco " seria a modernização nascida por influência de
uma novela exibida na ilha, após o advento da televisão, onde uma personagem
era assim chamada e se conduzia com um misto de encantamento e assombração,
percorrendo as ruas de uma cidade pacata e povoando o imaginário dos homens
simples do lugar. A mulher que seduzia os homens costumava - segundo alguns que
juram tê-la visto - sempre vestida de branco...
Para outros, no entanto, a
"Mulher de Branco" tinha nome e sobrenome. Era um disfarce usado por
uma ordenança, a fim de assustar mulheres que se prostituíam e, para isso,
andavam pela rua após o horário então permitido. Coberto com um lençol, como se
fosse um fantasma, o homem saía ao encontro dessas mulheres, botando-as para
correr de volta para suas casas, aquietando o lugar onde se dava a
transgressão. Uma versão mais ou menos assim é contada pelo velho Campelo,
morador da ilha, cheia de sabedoria e de "causos" para contar, misto
de poeta e contador de histórias. “Seu” Campelo chegou à ilha na década de
quarenta. Guarda uma riqueza enorme nas memórias e nas criações que faz.
As duas "sereias" se
confundem na tradição popular. Quem seria mesmo a "Mulher de Branco"
noronhense?
A Lenda do Homem do Telhado
História registrada no século
XIX, pelo historiador Alfredo do Valle Cabral, fala de forma romanesca da
figura de um " ente fantástico, um general, fardado e armado, que aparecia
por sobre os telhados do largo da Vila dos Remédios, arrastando espadas e assombrando
muita gente ".
Segundo versão dos prisioneiros
da época, essa figura estranha aparecia nas noites escuras, pulando de um lado
para o outro, como se fosse uma assombração e morava na abóbada da Fortaleza.
"A natureza deu ao homem
percepções e a capacidade de produzir ficções, lendas e superstições,
particularidades exclusivas dos seres inteligentes, indispensáveis a uma vida
pouco protegida pelo instinto, espécie de aura que envolve a inteligência”.
Somente Valle Cabral menciona essa lenda. Nenhum outro. Nos
seus manuscritos, estão os detalhes do homem que se esconderia na parte alta da
maior fortaleza noronhense e dali partiria, sempre que o desejasse, carregando
tralhas barulhentas, que geravam pânico entre sentenciados.
A Lenda do Pecado
Essa é a lenda mais próxima dos
dias atuais...
O idílio clandestino foi,
finalmente, descoberto. E, para dar exemplo aos demais gigantescos habitantes
da ilha, diante da conduta pecaminosa do casal, foram eles condenados: tiveram
decepados seus órgãos. As partes ficaram então expostas, à vista de todos os
ilhéus, para que outros adultérios fossem cometidos... “... os seios da mulher
foram extirpados e colocados em uma praia e o falo do pecador exposto no ponto
mais alto da ilha". (FONTE: Versão da "lenda do pecado"
publicada pelo jornalista Waldemir Maia >Leite, no jornal Diário de
Pernambuco, em 20 / 10 / 1985).
Imagina que dois seres gigantescos
- um homem e uma mulher - apaixonados, cometeram o pecado de ficarem juntos e,
por isso, e foram castigados, ela condenada a ficar petrificada, com seus seios
a flor d'água, junto ao morro Dois Irmãos e ele também condenado a o seu falo
petrificado, no morro do Pico.
Transformados em pedra, jazem,
sepultados, para sempre, em Fernando de Noronha. Ela, mergulhada nas
profundezas do mar, deixa-se nos morros tão semelhantes, chamados na
brincadeira de agora de "Fafá de Belém". Ele, ereto e imponente,
proclama sua virilidade de homem no morro que se avista de quase todos os
ângulos e que bem poderia ser o "Bráulio" das campanhas sanitárias...
"A narrativa mítica relata
um acontecimento ocorrido no Tempo Primordial, num passado longínquo, no
Atlântico Equatorial, a 4 graus da Linha Equinocial. Nesse espaço oceânico,
habitado por gigantes, existia uma sociedade modelada por regras e valores
ético-morais extremamente rígidos. Dramática situação, no entanto, quebraria o
cotidiano daquela comunidade. Um dia, irrompe, descontroladamente, a paixão
entre dois gigantes. Era, porém, amor proibido, transgressor... Certo tempo
depois, o idílio clandestino foi finalmente descoberto e, em decorrência, os
infratores foram submetidos às penalidade máxima: a morte. Parte dos seus
corpos foram mutilados e jogados nas praias do Mar de Dentro. Dela, os seios,
dele, o falo. O Tempo transformou-os em estátuas de pedra, reconhecíveis,
identificáveis, perfeitas, eternizando o amor dos dois enamorados em montanhas
de granito! (Rochedo Dois Irmãos e Morro do Pico). Curiosamente, não os separou
nem os uniu num abraço perpétuo à face dos homens. Deixou-os próximos e
distanciados, eretos, frente a frente, imagem da imóvel fidelidade, da
obstinação amorosa, esperando o infinito. E assim eternamente ficarão". (FONTE:
A "lenda do pecado" recontada por Janirza Cavalcanti da Rocha Lima,
>na sua Tese de Doutorado da USP "O Arquipélago "Ilhado" -
Cotidiano e >Identidade em Fernando de Noronha", extraída aqui do
Relatório de Pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco / Instituto de Pesquisas
Sociais / Departamento de Educação, Recife / 1997).
São símbolos fálicos, nascidos do
erotismo reprimido por aquela população sem mulheres durante muito tempo. São
resultado da fantasia do homem que busca explicar o inexplicável,
supervalorizando o sexo no amor.
Essa é a lenda de maior impacto
entre os visitantes nos dias de agora, pela semelhança das pedras com os
objetos da sua invenção.
A Luz do Pico
Nas noites escuras, uma “luz”
brilha e vagueia, subindo e descendo a soturna pedra, que é o morro do Pico...
A luz forte encandeia e atrai os que passam por aqueles caminhos... Essa é a
descrição da lenda que fala da “Luz do Pico”.
“No alto da baliza aparece uma
luz peregrina – alma errante de linda francesa - algumas vezes encarnada em ser
humano... Viram-na os sentenciados, aos quais a francesa lhes ofereceu um
tesouro... Certo dia um presidiário pescava sozinho ao escurecer. Sentido presa
ao anzol. Ergueu a vara. Era o rosto da francesa em corpo de sereia. O pescador
correu e a visão o chamou miserável, por não ter querido desenterrar o tesouro.
E a luz há de viver no Pico, como fogo fátuo, até que um dia o ouro que o
espírito guarda seja dado a alguém.” (FONTE: Mário Melo, na obra “Archipelago
de Fernando de Noronha – Geographia Physica e Política”, 1916).
Muitas referências existem a essa
aparição de uma mulher loura, que a tradição identificou como “francesa ”.
Contam que, no passado, dois velhos prisioneiros, estando de ronda nas
proximidades do morro do Pico, foram seguidos de perto por uma “francesa”, que
lhes ofereceu ouro... Apavorados, tremendo de medo, fugiram em desabalada
carreira, sem se dar conta que estavam recusando a riqueza oferecida.
Dizem também que um dia, um jovem
e esfomeado prisioneiro encontrou-se com a estranha visagem, da qual os
companheiros mais experientes tanto falavam e começou a chorar de desespero,
talvez sensibilizando a loura aparição que, rapidamente, jogou aos seus pés um
tesouro e sumiu.... O homem ficou rico! Da mesma forma atribuíram muitas mortes
por afogamento à aparição dessa mulher misteriosa, que seria até “pescada” nos
anzóis dos pescadores noturnos, deixando-os cegos de pavor.
Insensível morro do Pico
continua, impassível, assistindo à agonia dos coitados, expostos às histórias
antigas. E, buscando os rastros históricos, há como explicar a presença de uma
“francesa” no imaginário popular, por ter sido esse o povo que mais frequentou
o arquipélago, tanto como saqueadores, como para cooperação técnica, na aviação
e na telegrafia submarina.
A “Luz do Pico” foi poetizada por
Gustavo Adolfo Cardoso Pinto em 1892 e registrada por diversos historiadores e
cronistas, como Beatriz Imbiriba, Olavo Dantas, Pereira da Costa e Campos
Aragão .
Gigante da Meia Noite
Uma história ligada à pesca,
tradicional atividade insular, praticada por homens presos e por gente livre,
como obrigação e como lazer. Diz a lenda que um homem de estatura gigantesca
costumava aparecer no meio da noite, no pesqueiro da Ponta da Sapata, nas
noites claras de lua. Com um enorme chapéu desabado sobre o rosto, trazendo um
samburá cheio de sardinhas "que alumiavam feito prata" ele deixava
todos os pescadores que estivessem naquelas paragens arrepiados de medo,
sabendo que, a partir do instante em que aquela assombração começasse a pescar,
todos os peixes iriam para o seu anzol e ninguém mais apanharia peixe algum.
Muitos desafiaram o "Gigante
da Meia-noite", tentando segui-lo quando ele ia embora ou tentando
continuar a pescar, apesar da maldição que ele parecia deitar nas pescarias...
Ninguém jamais o apanhou. Por mais que corressem, aquele homem enorme, que andava
vagarosamente, estava sempre à frente... Quase sempre, ele tomava o caminho da
Casa Grande do Sueste e... desaparecia!
Também este lugar, na estrada
velha do Sueste, foi sempre considerado mal-assombrado. Casa que servia como
local de "veraneio" dos comandantes do presídio, esse antigo chalé,
durante um certo tempo, abrigou um hospital de beribéricos, para onde iram os
doentes do arquipélago em busca de cura. Os que morriam, eram sepultados no
quintal da casa, vindo daí a fama de ser o lugar também mal-assombrado.
Era aí, nesse vasto pátio
soturno, que o Gigante da Meia-noite dançava com seus fantasmas-comparsas,
enquanto uma "orquestra" de duendes provocava o som rouco de seus
acordes noturnos.
Uma lenda que tudo a ver com a
figura do pescador, tão familiar aos noronhenses e com a vocação de ser a ilha
um local de cura para algumas doenças que exigiam, sobretudo, a fartura das
frutas que restabelecessem os organismos abatidos pela carência de vitaminas.
Lenda da Alamoa
"... fulva e cruel donzela,
a fada do gênio mau da ilha presidiária de Fernando de Noronha, levando o
terror por toda parte nas suas correrias noturnas..." (FONTE: Pereira da
Costa, comentando especificamente essa lenda em "Folk-Lore
Pernambucano").
Fala de uma mulher sedutora, de
pele muito alva, longos e fartos cabelos louros, seminua que, em noites sem
lua, com sortilégios e cantos envolvedores atraía os desavisados, levando-os a
morte, nos penhascos e promontórios do arquipélago.
À semelhança da
"Lorelay", sereia alemã em guarda no rio Reno, na saga germânica que
pretende explicar o mito, ou da nossa Iara ou da "rainha do mar,
"Yemanjá", de origem africana, também a "Alamoa" defende
seu território, seduzindo e afastando aqueles que ousem aproximar-se dela. O
nome é corruptela de alemã, por imaginarem-na como uma mulher descendentes dos
muitos navegadores nórdicos que procuram aqueles espaços para abastecerem suas
embarcações, depois de longas travessias pelo oceano desconhecido, sobretudo os
holandeses, que permaneceram na ilha por 25 anos.
"A pele era clara,
translúcida; a loira cabeleira lhe atingia os joelhos. Ela dançava, sacudindo
os cabelos que ora envolviam, ora desvendavam bruscamente seu corpo. Os olhos,
de um azul-marinho - como as águas que cercam a ilha - tinham mirada fixa, como
a das serpentes, brilhando de lascívia" (FONTE: Descrição contida no livro
"Roteiro de Aventuras nas Antigas Fortalezas do Brasil", de Josina e
Nelson Correia).
Esta é a lenda mais famosa de
Fernando de Noronha, repetida por todos os estudiosos do assunto. Para Pereira
da Costa ela seria de origem "francesa"; para Mário Melo, seria
"holandesa"; para a maioria dos que falam da lenda, sua origem seria
mesma alemã, embora o único registro de presença alemã mais ou menos longa é a
de um solitário navegador, no século XVI.
“Não saias, meu filho, de noute
na rua; não saias sozinho, não vagues atoa: olha que a noute divagam fantasmas.
Divagam sem trilho: Não saias, meu filho, Que podes topar cruel
"Alamoa". (FONTE: Fragmento do poema “Alamoa”, de Gustavo Adolpho
Cardoso Pinto, final do século XIX).
As mães aconselhavam os filhos
que não saíssem para passear nessas noites perigosas, pois a
"malvada" Alamoa poderia enlouquecê-los de amor e matá-los de
terror". Aqueles que se deixassem enredar nessa teia de sedução, estavam
expostos à maldição da sereia de "mãos longas e pálidas" , " de
abraço gelado e aterrador contato" , somente vencido se uma clarão de raio
iluminasse o lugar fazendo desaparecer o encanto. (FONTE: Textos da obra
"Fernando de Noronha - Lendas e Fatos Pitorescos", publicado em 1ª
edição pelo Instituto Nacional do Livro / MEC, em 1988).
Poetizada no século XIX pelo
consagrado poeta e folclorista Gustavo Adolpho Cardoso Pinto8 e no século XX
por Ferreyra dos Santos (FONTE: O fundador da Academia de Artes e Letras de
Pernambuco que, em 1955, poetizou a lenda), foi musicada por Capiba10 que,
encantado com a lenda, transformou a poesia de Ferreyra dos Santos em canção,
gravada pelo ator e cantor Carlos Reis, atual diretor do espetáculo
"Paixão de Cristo", em Nova Jerusalém , Pernambuco. Foi também
inspiração para o teatrólogo e jornalista Luiz Maranhão Filho, que fez dela uma
peça para teatro. E, em 1995, foi carnavalizada na Escola de Samba Estação
Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro, em carro alegórico, como uma bela e
gigantesca sereia, pelo carnavalesco Ilvamar Magalhães, que a personificou - no
destaque do carro - com a apresentadora da TV Globo, Angélica.
Em 1980, a 'Alamoa" voltou
aos seus domínios... Não mais para inspirar terror nem enfeitiçar prisioneiros
desavisados, mas para trazer alegria. E chegou dançando, frevando, sacudindo
sua cabeleira "nórdica", como uma folia dos nossos tempos. Nela nada
havia da assustadora figura mítica, que tanto medo despertou... Essa
"Alamoa" risonha e bonachã, voltou encantada em forma de
boneca-gigante, para brincar carnaval, para preceder o cortejo de bonecos
igualmente grandes, guardando - no seu retorno permitido - o rastro forte de
magia e de mistério, ué a fez nascer no coração dos homens do passado, para
povoar a solidão de suas vidas sem mulheres, sem sexo. No Boletim da Comissão
Catarinense de Folclore de dezembro de 1990, a "Alamoa" está descrita
e lindamente exibida em bico-de-pena.
"Alguns, enredados na teia
de mistério que cerca os relatos sobre a Alamoa, imaginaram histórias que
justificassem o seu aparecimento no saber do povo ilhéu. Houve quem a
acreditasse fruto de um amor proibido entre um holandês e uma
brasileira...".
Certamente, o terror existia no
coração de cada um dos que precisavam viver em Fernando de Noronha. E foi esse
medo do desconhecido que levou para o plano sobrenatural os ruídos das noites
noronhenses, os clarões a iluminar recantos talhados em pedra..." (FONTE: Boletim
nº 42, ano XXVIII, dezembro de 1990, do Boletim da Comissão Catarinense de
Folclore. Texto da autora dessa coletânea).
No texto publicado em Santa
Catarina, fica claro que a Alamoa nascia muito mais no coração de cada
prisioneiro, de cada militar segregado, de cada um forçado a uma permanência
não-procurada mas aceita, por força das circunstâncias. Mesmo nos dias atuais,
ela pode ressurgir naquele que se deixar vencer pelos seus medos, colocando-os
para fora de si, sem condições de superá-los...
E é ainda essa lenda a grande
inspiração dos poetas de agora, como uma herança apreciada e merecedor culto
nossos dias.
Lenda do Cajueiro da Cigana
Houve um tempo, no passado, em
que todos os ciganos do Brasil foram banidos para Fernando de Noronha,
possivelmente em 1738 ou 1739. Era a definição de "limpeza da raça",
com o afastamento daquele povo considerado desordeiro e vadio. No rastro dessa
história real, a lenda fala de uma linda cigana que, vivendo num casebre na
ilha, que tinha ao lado um frondoso cajueiro, plantado por ela. Num lugar sem
mulheres, onde ela era, talvez, a única exceção, esta bela mulher
prostituiu-se, entregando-se a muitos homens.
Ao morrer, o lugar tornou-se
mal-assombrado e sua alma errante começou a aparecer junto ao cajueiro que
plantara. Ao seu redor, fantasmas materializados de alguns desses homens aos
quais enfeitiçou: generais, ordenanças, padres, também apareciam, amedrontando
as gerações que se seguiram com o estranho relato.
Uma crença que tem raízes na
história, na presença de ciganos em Fernando de Noronha, a partir de 1738,
banidos do continente de má índole e perigosa para o trato com os homens. Uma
história carnavalizada pela Escola de Samba Mangueira, em 1995, num carro
alegórico de símbolos gitanos, seguido pela ala de ciganos de todas as cores e
enfeites.
Lenda do Capitão Kidd
À luz da historia acontecida em
Fernando de Noronha, há indícios de que o célebre navegador inglês Francis
Drake teria abordado a ilha em 1577, quando corria o mundo. Ele, que era
conhecido como "Capitão Kidd", um saqueador dos mares, um pirata,
acostumado a pilhar embarcações que singravam os oceanos, sentindo-se caçado
por perseguidores nas proximidades da ilha teria escolhido este lugar longínquo
para esconder o seu tesouro, em uma caverna sinistra.
Verdade ou mentira, a simples
presença na ilha dessa figura romanceada em verso e prosa gerou histórias de
ganância, de procura, de crenças em mapas que apontariam essas maravilhas em
jóias, moedas, insígnias.
.. Até hoje ninguém localizou
esse tesouro. Muitos poucos se aventuraram a descer o íngreme paredão que vai
dar na caverna onde ele estaria depositado, chamada até hoje de "Caverna do
Capital Kidd", situada no mar-de-fora. Cientistas, em trabalho no
arquipélago não se furtaram a fotografar a célebre caverna, embalados na lenda
que atravessou ou séculos.
Uma versão dessa lenda considera
como esconderijo do tesouro a caverna situada abaixo da Fortaleza dos Remédios,
chamada de "Caverna dos Suspiros", por uns e "Caverna do
Funil", por outros. E, como conseqüência, afirma que nessa caverna morava
um dragão terrível, guardador do precioso tesouro e que, um certo dia, vendo
próximo à entrada da caverna a bela filha de um presidiário, arrastou-a para
dentro da caverna, mantendo-a presa em seus domínios até a morte.
E, como a comprovar essa historia,
é aí que se escuta o “ronco do leão”, barulho ensurdecedor, causado pelo mar
que penetra na caverna, nas marés cheias. Outra suposição diz serem as ruínas
existentes na ilha Rata o esconderijo do tesouro, nas muitas viagens que fez à
ilha, até que, tendo sua embarcação pirata sido abordada e afundada na baía de
Santo Antônio, a lendária figura teria desaparecido, sem que ninguém jamais
tivesse encontrado a riqueza que teria sido escondida pelo capitão naquela ilha
secundária.
A lenda do Capitão Kidd mereceu
ser objeto de um carro alegórico lindíssimo, na Escola de Samba Mangueira, no
Rio de Janeiro, no carnaval de 1995. Repleto de jóias e moedas que
transbordavam de uma arca, esse "tesouro" imaginado era guardado por
alas de piratas, no bom estilo de tempos distantes.
Na realidade, acredita-se hoje
que o "tesouro" a ser buscado no arquipélago não é material... É o
tesouro da beleza, da natureza privilegiada, dessa magia que a tudo enfeitiça.
O Menino do Dentão
Fazer medo às crianças, como
forma de conseguir obediência é muito comum entre os mais velhos. O cancioneiro
popular reúne inumeráveis formas de intimidação, seja em expressões carregadas
de significado, seja em canções que repetem afirmativas que assustam. "Boi
da cara preta, pegue esse menino que tem medo de careta...", por exemplo,
é uma dessas formas de chantagem emocional, diante de uma birra, de uma
teimosia, de uma falha de comportamento. Assim é a "perna cabeluda"
que apareceria, a "caipora" que pegaria a criança e tantas outras.
O Menino do Dentão é uma dessas
formas de causar medo praticada em Fernando de Noronha, para conseguir, com
isso, a obediência ás ordens: um fantasma-menino, com um dente só, bem grande,
que correria atrás das crianças que ousassem sair de casa à noite, mesmo que
fosse para uma brincadeira inocente. Alguns adultos de hoje cresceram
assustados, sob essa ameaça constante, diante de qualquer falta que cometessem.
Heleno Armando, primeiro diretor do Parque Nacional Marinho foi um desses.
(FONTE: Ely Pereira de Ávila, na obra
"Fernando de Noronha - da Ilha Maldita ao Paraíso" dedica um capítulo
ao saudoso noronhense e nele menciona que Heleno Armando, em criança, só tinha
medo de duas coisas: do "Menino do Dentão" e da "Mulher de
Branco").
Outros afirmam, "de pés
juntos", que viram o fantasma-menino, debochando deles, ameaçando
mordê-los com o seu "dentão"; outros contam que "conversaram com
ele", ouvindo-o dizer como ficara assim, ao ter todos os seus dentes
arrancados pelo padrasto, que matara sua mãe a facadas e a ele com uma
"pisa"...
Dona Pituca (Maria do Carmo
Barbosa Dias, uma figura pitoresca do arquipélago) é uma dessas, que afirma ter
encontrado com o menino numa noite escura, em que perdera o sono e "tomava
fresco" na frente da Igreja dos Remédios... Outros, dentre os mais velhos,
não reconhecem essa história como "verídica", embora a ameaça de uma
punição pelas faltas infantis continuassem a ser repetidas por mães zelosas, à
falta de argumentos mais convincentes para impedir que seus filhos
vagabundassem pela ilha depois que escurecia. Medo de uns; coação de outros.
Isso alimentou a história fantasiosa do "Menino do Dentão".
O Monstro do Sueste
Diziam os presidiários que a baia
Sueste era encantada. Gemidos apavoravam os passantes e um monstro marinho,
maior do que um casco de navio, costumava aparecer, na calada da noite,
surgindo à flor da água, com a aparência de uma ilha.
Os pescadores tinham horror a
passar por ali sozinhos, com receio de avistar o monstro ameaçador... Muitos,
vindo pescar na baia de águas tão calmas, sem perceber, poderiam subir naquilo
que lhes parecesse uma "ilha": o dorso negro e arqueado da estranha e
disfarçada figura e, de repente, serem arrastados para longe com o deslocamento
do traiçoeiro fantasma...
Afirmavam os presos que os
rugidos desse monstro chegavam a abalar os montes. Também diziam que aquele que
fosse enredado no feitiço do monstro e se decidissem a pescar sobre a
"ilha" assombrada, seria levado para sempre, sem possibilidade de
volta.
Hoje já não há visões do
"Monstro do Sueste". Nem mesmo relatos recentes de gente que tenha
ouvido e dado crédito aos mistérios aqui relatados.
O Tesouro Encantado
História contada por um
prisioneiro e recolhida por Olavo Dantas, em 1938, fala de um velho estranho,
com longas barbas como um monge, que atrairia os incautos para um lugar próximo
à sétima cajazeira, onde havia uma cruz formada por duas raízes da árvore e
onde se estava escondido um tesouro".
O perigo maior ficava por conta
do que aconteceria se alguém se propusesse a cavar junto a essa cruz, formada
pelas raízes... Toda a árvore estremeceria, mexendo seus galhos sofregamente,
mesmo que não houvesse vento algum. Depois de algum tempo, não só essa árvore
estaria em movimento mas o mato ao redor, como se uma violenta tempestade
açoitasse a região.
O tesouro resistiu às investidas
- se é que ele realmente existe – servindo apenas para causar assombração. Do
velho, nem sinal... Tudo o que se sabe é que a região mal-assombrada fica perto
da antiga estação de rádio da Marinha. (FONTE: A Estação ficava no morro de
Santo Antônio, por sobre a qual ergue-se hoje o "Hotel de Trânsito a
Aeronáutica”).
Em torno dessa lenda, há um
desdobramento inexplicável, no episódio vivido por um ilhéu que, quando
criança, que assistiu a procura feita por uma mulher que, vivendo em Natal /
RN, sonhou que havia um tesouro encantado em Fernando de Noronha, sonho esse
com riqueza de detalhes e de "pistas" para encontrar a riqueza. Com
dificuldade ela viajou para a ilha, andou à procura do cenário onde estaria
essa riqueza, até identificar o lugar e garantir " - O lugar é esse: estou
identificando pelo sonho".
E o pai daquele menino cavou
junto a uma árvore, seguindo as ordens da mulher, que dizia: "Conte 15
passos para a direita; agora 8 para a frente. Pronto. É aqui. Pode
cavar."até encontrar uma caixa comprida, de ferro, suja pelo tempo e pela
terra onde estava escondida. Afirma a "testemunha" daquela insólita
procura, que, enquanto seu pai cavava, figurinhas minúsculas de homenzinhos
saíam do buraco que se fazia, como se fossem "duendes"...
Bem que o menino avisou: Mas
ninguém acreditou. Somente a vidente, que era chegada a crendices e
superstições. (FONTE: História vivida na ilha por Jedimir de Andrade Silva,
apelidado "Profeta", que viveu essa aventura quando criança e
publicada no livro "Fernando de Noronha: Lendas e Fatos Pitorescos").
Segue uma reportagem do antigo "Jornal da Ilha" da TV Golfinho (emissora de TV que existiu na Ilha e foi filiada à Rede Globo e depois, TV Brasil). O vídeo apresenta depoimentos de moradores como Dona Nanete e Zé Maria, sobre algumas estórias que fazem parte da cultura de Fernando de Noronha. Confira:
Que pena que o grande e considerado como o maior folclorista de todos os tempos o potiguar e natalense Luiz dá Câmara Cascudo não faz nenhuma mensais a essas lendas do folclore noronhense e porconseguinte brasileiro.
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